Resultado Verde
Kamila Schneider
A primeira vez que o mundo ouviu falar em desenvolvimento sustentável, o conceito não passava de uma teoria abstrata. O chamado Relatório Brundtland apresentou a surpreendente ideia de um "desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.
Mais de duas décadas depois, o que era um simples termo se transformou em responsabilidade social. Não se trata mais de ideias ou planos para o futuro: sustentabilidade passou a ser exigência da sociedade aqui e agora, e um quesito de sobrevivência para as indústrias.
E engana-se quem pensa que é só marketing ou caridade. Ser sustentável tornou-se parte do planejamento estratégico das empresas, sendo um sistema eficiente de diminuição de custos e uma ferramenta altamente competitiva.
Para a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – Ibase, Cláudia Mansur, sustentabilidade é, na realidade, uma nova forma de gestão de negócios. Ela é necessária para que a empresa fique bem no mercado, possa fazer frente a seus concorrentes, manter o cliente e ter lucro.
“Historicamente, desde que o homem começou a fazer negócios, é visando o lucro. O sucesso é medido pela lucratividade”, explica a pesquisadora. “Após séculos visando só o resultado no final do mês, percebeu-se que o mundo vai colapsar”.
A partir daí, criou-se uma relação muito estreita entre economia e sustentabilidade. As organizações perceberam que é possível manter a lucratividade e preservar os recursos naturais. E mais: essa pode se tornar uma ferramenta para o crescimento do negócio.
“Hoje o que mais motiva a trazer esse tema para dentro [das empresas] - salvo raríssimas de exceções - é sem dúvida a questão econômica”, afirma Cláudia. A preocupação não é à toa: a especialista salienta que já existem estudos comprovando que empresas sustentáveis têm maior rendimento.
“Sustentabilidade e economia - dentro das empresas essas questões estão muito atreladas. Isso é importante para a vida do negócio. Eu sempre brinco que é meio como escovar os dentes: quando somos criança é chato e obrigação, mas chega uma hora que isso vira um hábito. Então acredito que é parte do processo, talvez essa prática se torne tão rotineira que vire de fato o dia a dia da empresa”.
De qualquer forma, o importante é que o mundo está caminhando rumo a uma consciência mais verde, destaca Cláudia. Ainda engatinhando, e talvez por motivos não tão nobres quanto o esperado, mas é uma realidade.
Desenvolvimento verde
Adaptar uma empresa aos moldes do desenvolvimento sustentável não é uma tarefa fácil - exige muito planejamento e elevados investimentos. Primeiro, é preciso adequar-se às exigências da legislação ambiental, aponta o consultor em sustentabilidade da Ambiens Consultoria, Emerilson Gil Emerin.
Terminados os trâmites legais, é a hora de iniciar a implantação de um Sistema de Gestão Ambiental – SGA. Ele irá resolver, mitigar e prevenir problemas ambientais. O SGA é um sistema de gestão que compreende todas as práticas necessárias para elaborar, aplicar, revisar e manter a política ambiental da organização.
Segundo Emerin, com o SGA é possível fazer uma “radiografia da empresa”, com um diagnóstico preciso de todo o setor produtivo.“A empresa terá um checklist das posturas e mudanças de procedimento que podem ser adotadas, desde que não afetem o seu faturamento”, aponta o consultor.
Se a empresa não tem condições de adequar seu sistema, o ideal é fazer um planejamento que defina quanto tempo será necessário para que a ação se viabilize. De acordo com Emerin, algumas certificações ambientais exigem investimentos muito altos que, se mal planejados, podem trazer grandes prejuízos.
“O importante é não dar o passo maior do que as pernas, senão a empresa adota um modelo e não o executa, transmitindo a ideia de que aquilo é só uma imagem e não está efetivamente mudando a empresa”.
Para o presidente do Instituto EcoD, Isaac Edington, as empresas estão mais à vontade para se estruturarem baseadas na sustentabilidade, principalmente aquelas que viram nesse modelo uma oportunidade de desenvolvimento. Por isso, adequar-se a esse padrão é na verdade um exercício de conhecer o negócio e suas limitações.
Entender o momento que a empresa está passando, analisar sua administração e o modelo em que ela se encaixa são as tarefas primordiais para qualquer mudança significativa no negócio. É necessário refletir sobre o futuro e repensar a organização, destaca Edington, atrelando as ações à estratégia de negócios e avaliando o impacto ambiental de suas ações.
Felizmente, aponta Edington, nos últimos anos é possível perceber uma movimentação – mesmo que singela - em torno da ideia de preservar recursos que, de fato, não são finitos. “Sempre brincamos que é proibido falar que nós vamos salvar o planeta, porque o planeta vai muito bem sem nós, obrigado. É a nossa interferência que faz isso. Na verdade, precisamos salvar a nós mesmos, porque as coisas vão de uma forma que já começamos a inviabilizar a nossa existência”.
Matéria publicada na Revista Mercado Brasil, edição 81. Edição: Cristiano Escobar Maia. Arte: Roberto Lanznaster.
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