Que futuro queremos?

08/06/2011 08:59

 

Kamila Schneider
 
Quando o assunto é transporte, a palavra que melhor descreve Santa Catarina é “possibilidades”. Mas, apesar de ser detentor de três aeroportos nacionais, seis grandes portos e 17 rodovias federais, o Estado vive uma ambiguidade: ao mesmo tempo em que possui sistemas de transportes modernos e eficientes, a mobilidade urbana se torna cada vez mais caótica - impulsionada principalmente pela frota de quase 3,5 milhões de veículos.
Neste cenário típico do século 21, a solução mais apropriada está justamente aquém daquilo que estamos acostumados no dia a dia. Já não basta mais criar novas estradas ou readequar vias para os antigos sistemas de locomoção. O foco começa a se voltar para outras possibilidades: os chamados transportes alternativos.
Antes de tudo, é importante compreender o que significa, afinal, transporte alternativo. Ao contrário do que se costuma pensar, esse termo não tem nenhuma ligação com a sustentabilidade, explica o doutor em engenharia de produção da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, João Carlos Souza.
Basicamente, se encaixa nessa definição todo o transporte que está fora do convencional, do uso cotidiano. “Quando uma cidade tem preponderância de determinado transporte e cria outra opção para atender a demanda, este é alternativo”. Ser ou não um transporte convencional irá depender exclusivamente do desenvolvimento e da cultura de cada local – em algumas cidades, por exemplo, o metrô é convencional, enquanto outras sequer possuem esse sistema.
O fato é que, mesmo não havendo relação entre “alternativo” e “ecológico”, os termos se tornaram praticamente uma coisa só. Com o tão presente conceito de desenvolvimento sustentável, não há como fugir dessa ligação: além de ser alternativo, o transporte precisa ser ecologicamente correto, senão o benefício é incompleto.  Como diz o velho ditado, “unir o útil ao agradável”.

O segredo é planejar

“Todo o sistema de transporte necessita de muito planejamento. Às vezes, mudar uma rua resolve, mas às vezes causa um transtorno ainda maior”. Não é a toa que Souza, doutor em engenharia de produção da UFSC, insiste em frisar a importância do planejamento: sem ele, as estradas podem se tornar um verdadeiro caos no futuro.
Basta olharmos para alguns municípios brasileiros, que hoje enfrentam problemas sérios de mobilidade social devido a vias mal projetadas, regiões montanhosas que dificultam a abertura de estradas e até pontes que afunilam o trânsito.
Ainda assim é fato que, nada disso seria um grande problema se não houvesse tantos carros pelas ruas do país. “Todos gostam do conforto, então dificilmente alguém se dispõe a deixar o seu carro e ir com transporte coletivo. Eu mesmo, quase sempre, prefiro pegar meu carro e enfrentar um congestionamento. Se as pessoas utilizassem mais o transporte público, a situação melhoraria”, afirma o especialista.
É claro que também existem outros motivos que desestimulam essa prática. A falta de um transporte público de qualidade, por exemplo, é o principal deles. Segundo o presidente da Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina – Fatma, Murilo Flores, mesmo o ônibus sendo um veículo automotivo e poluente, sua utilização reduz o número de veículos na estrada, desobstruindo vias, reduzindo a pressão sobre o meio ambiente e a emissão de CO2 na atmosfera.
“Infelizmente aqui não possuímos alternativas mais ambientalmente saudáveis, que são os transportes públicos movidos à energia alternativa, principalmente elétrica”, afirma Flores. Ele explica que, nos principais centros da Europa, por exemplo, metrôs, trens e bondes elétricos demonstram ser uma ótima solução para a melhoria do transporte público sem danos graves ao meio ambiente.
Porque, então, é tão difícil utilizar tecnologias como essas no Brasil? Novamente, a resposta é planejamento. De acordo com Flores, hoje os urbanistas modernos pensam as cidades de forma que as pessoas precisem se deslocar pouco no cotidiano. Ao invés de projetar estradas para grandes quantidades de veículos, pensa-se em alternativas para mantê-los em casa.
Esse novo modelo de urbanismo é muito diferente do modelo estipulado no século passado, em que as empresas são afastadas e os trabalhadores se deslocam por grandes distâncias. “Esse modelo ficou no passado, mas ainda está presente nas cidades”, destaca o presidente da Fatma. “É preciso ter consciência de que o modelo do século passado, com sete oito bilhões de pessoas no mundo, torna-se impossível”.
Há muitos casos de países e centros urbanos que passaram por grandes modificações para se adequarem ao novo modelo. Mas, sem dúvida, isso representa um desafio. Por agora, aponta Flores, as decisões precisam estar voltadas para a melhoria do transporte público para que, no futuro, o replanejamento das cidades se torne mais palpável.
Conforme Souza, não existe um modelo de transporte que possa resolver todos os problemas - cada sistema tem suas vantagens e desvantagens. “Mas uma coisa é certa”, complementa o especialista, “as pessoas só trocam de transporte se o custo generalizado for menor, oferecendo conforto, segurança e tempo”.

Matéria publicada na Revista Mercado Brasil, edição 82. Edição: Cristiano Escobar Maia. Arte: Roberto Lanznaster.

 

Leia também:

Alternativas e viáveis
Sesi incentiva o uso da bicicleta

O que você acha dos transportes alternativos? Dê sua opinião!

Nenhum comentário foi encontrado.

Novo comentário